Os alicerces para a construção de um plano de ação de proteção integral de crianças e adolescentes órfãos foram firmados na segunda-feira (24) durante o Seminário Estadual de Orfandade e Direitos. O primeiro passo será a elaboração de uma Carta de Compromissos, cuja minuta deverá ser concluída em 30 dias. O evento foi realizado, de manhã e à tarde, no plenarinho Deputado Nelito Câmara, na Casa de Leis, com a participação de profissionais das áreas de Saúde, Assistência Social, Educação e Segurança Pública.
Conforme definido ao fim do encontro, será elaborada uma Carta de Compromissos, que vai contemplar a proteção integral, a orfandade como situação socialmente construída, a atenção às comunidades indígenas, definição da atenção emergencial diante da morte, universalização dos direitos independente da consideração jurídica, contemplando, assim, as crianças imigrantes.
Mesas: Debate público, saúde mental, educação, indígenas, desigualdades e controle social
Além das discussões quanto a Carta de Compromisso, foram realizadas duas mesas de discussões durante o período vespertino, totalizando três em todo o seminário. De manhã, os participantes da mesa discutiram o tema “Orfandade como desproporção social: Explorar o conceito básico de orfandade trazido pela coalizão orfandade e direitos”. Na parte da tarde, a primeira mesa (e segunda do dia) debateu o tema “Ações e proteções às crianças e adolescentes em orfandade e suas famílias”. Por fim, a mesa 3 trouxe questões concernentes ao “Controle social nas ações e proteções de crianças e adolescentes em orfandade e suas famílias”.
A Mesa 2 apresentou reflexões sobre a importância de percepção da orfandade não como problema restrito à dimensão individual, mas sim como um debate público. Também foram discutidas, sempre relacionando-se com a orfandade, questões de saúde mental, situações educacionais, famílias acolhedoras, além da atenção especial às diversidades de crianças e adolescentes das comunidades indígenas e da necessidade de discutir o problema, relacionando-o com as desigualdades socioeconômicas.
“Precisamos colocar a orfandade no debate público e tirá-la da dimensão individual, como sempre foi tratada. É preciso tirar a orfandade do ambiente privado e tratá-la como desproteção social, que precisa ser incorporada no sistema de garantia de direito em responsabilidades compartilhadas entre o Estado, a família e a sociedade”, considerou a presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), Marina de Pol Poniwas.
Durante o debate, a assistente social, professora e pesquisadora em direitos de crianças e adolescentes, Estela Scandola, pontuou a necessidade de não restringir a discussão da orfandade a esse problema específico, o que faz com que a proteção deixe de ser integral. “Para que a criança tenha proteção integral, a condição de orfandade não pode ser determinante. Ela é só uma condição”, disse a pesquisadora. Estela também enfatizou a atenção à territorialidade. “O Estado não pode se sobrepor àquilo que a comunidade precisa fazer para cuidar das crianças. As soluções estão na comunidade, no modo de viver daquelas crianças”, acrescentou.
Essas questões, colocadas por Estela Scandola, entre outras problematizações, podem fazer parte do prólogo da Carta de Compromissos, conforme sugeriu o coordenador da Coalizão Orfandade e Direitos, Milton Santos. Ele propôs ainda, com a concordância dos presentes, que a minuta da Carta seja apresentada ao comitê em nova reunião a ser realizada em 30 dias. Depois, o documento será discutido e, em durante mais um mês, finalizado. Essa Carta deverá ser enviada ao Governo do Estado e outros órgãos e instituições.
Propostas a serem consideradas na Carta de Compromisso
A Carta trará propostas de compromissos específicos e interseccionais a serem assumidos pelas instituições, como também recomendações aos entes públicos. Também foi sugerido que o grupo responsável pela elaboração da Carta trabalhe com os dados já disponíveis, como os do Cadastro Único para Programas Sociais (Cadúnico), e que, posteriormente, seja composta uma base de dados integralizados. A ideia é que a Carta de Compromissos possibilite fundamentos para a criação de um plano de ação.
O coordenador da Coalizão Orfandade e Direitos também destacou a importância da parceria com o Poder Legislativo. “É importante discutirmos com o deputado Pedro Kemp, com os demais parlamentares e com a Mesa Diretora desta Casa, a elaboração de projetos de lei que tratem sobre a orfandade e a possibilidade de uma agenda de audiências públicas para avançar nesse debate”, propôs Milton Santos.