Com pouco mais de 16 mil habitantes, localizada no Oeste fronteiriço do Estado de Mato Grosso do Sul com o Paraguai, a até hoje pacata Porto Murtinho vive momentos de grande expectativa em relação a um futuro não tão próximo, mas que poderá significar a redenção e um grande desenvolvimento econômico e social para o município.
Estamos falando do mega projeto da Rota Bioceânica, envolvendo Brasil, Paraguai, Argentina e Chile. Afinal, Porto Murtinho será o portal de entrada e de saída de milhares de carretas e caminhões que transportarão as exportações brasileiras rumo aos portos do Chile e também turistas e produtos procedentes desses países parceiros no grande projeto.
Uma questão, porém, tem angustiado boa parte dos comerciantes e cidadãos de Murtinho. “A ponte está sendo construída há mais de 20 km daqui da cidade”, argumenta o proprietário de um bar e pastelaria. “No passado, eu atendia centenas de pessoas aqui. A dona daquela sorveteria tinha mais de 40 mesas na calçada e grande movimento. Hoje já não temos esse mesmo movimento, e como será o futuro se toda a circulação, se tudo passará tão distante da cidade”, argumenta ele.
Outros proprietários de pequenos e médios estabelecimentos também demonstram essa mesma preocupação, argumentando que de uns tempos para cá o movimento e as vendas tem caído muito. “A gente estava apostando que teríamos um grande movimento aqui na cidade com a Rota Bioceânica e todo o movimento que trará, mas agora, com a ponte tão distante, estamos preocupados e frustrados”, afirmou um murtinhense que não quis se identificar.
Autoridades tranquilizam
Essa manifestação da comunidade fez com que a plataforma expressnews.com.br procurasse o prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra, para questioná-lo sobre essa preocupação da comunidade local. Atencioso, o prefeito falou e procurou tranquilizar a população: “eu estou trabalhando nesse projeto da Rota Bioceânica faz 25 anos. Eu fui um dos atores que discutiu no início o tema.Participei de vários encontros na América do Sul, e nós entendemos que a Rota Bioceânica vai beneficiar não só Porto Murtinho, mas o Brasil inteiro. Porque? Tudo que vem dos países asiáticos e vai pra lá, passa pelo Canal do Panamá. Os maiores consumidores são os países asiáticos. Então nós criamos essa rota do Pacífico ao Atlântico”, argumenta o prefeito.
E prosseguiu lembrando “da luta, muito grande que foi conseguir viabilizar esse projeto. Isso foi na época do presidente Temer. Naquela ocasião foi assinado o projeto da construção da ponte sobre o Rio Paraguai, e eu lutei muito para que a ponte fosse construída aqui, dentro da cidade. Aí, nas conversa com os ministérios, até com o ex-ministro Tarcício, ele me disse que não era bom levar todo esse fluxo de caminhões, cargas, todo esse movimento para dentro de uma cidade. Causaria inúmeros problemas urbanos”, admitiu Cintra.
O ministro disse que quanto mais distante da cidade seria melhor. “Na verdade, não temos como dimensionar o que vai acontecer com o gigantesco fluxo de carretas, mas hoje não tenho dúvidas que, mesmo com a ponte distante, o projeto da Rota vai trazer muito progresso para Porto Murtinho, e também para Dourados, Campo Grande, Jardim e todo o MS”, afirmou Nelson Cintra.
“Porto Murtinho é o portal da Rota Bioceânica. Tudo o que vier do Pacífico, tudo vai passar aqui. E por isso, nós estamos planejando estruturar a cidade para aproveitar disso tudo, construir grandes galpões, quem sabe grandes depósitos. Afinal serão mais de mil carretas, containers por dia, que passarão aqui. Estamos estudando, juntamente com o Sebrae, com a Fiems, e duas universidades, um grande projeto de desenvolvimento para incorporar Porto Murtinho a esse projeto. A nossa população pode ficar tranquila” concluiu Cintra.
Cidade antiga e cidade nova
O secretário de Turismo, Cultura e Desenvolvimento da Prefeitura de Porto Murtinho, Clayton Castilho, também falou sobre a chegada definitiva da Rota Bioceânica. Segundo ele, não faz muito que chegou a Porto Murtinho, vindo de Bonito, mas já está muito engajado no esforço do prefeito Cintra de viabilizar o progresso que esse projeto certamente trará para Murtinho.
Ele considera normal, até certo ponto, essa preocupação dos murtinhenses pelo fato da ponte estar distante. Mas tranquiliza a população, salientando que há um grande estudo em curso quanto a essa nova realidade e disse que, “com o passar do tempo, a parte antiga da cidade vai encostar na parte nova que surgirá a partir da Rota Bioceânica. Será como a cidade antiga e a cidade nova, que se transformarão numa Porto Murtinho una e de progresso inquestionável”.
