A caruru-palmeri (Amaranthus palmeri) é uma planta capaz de causar grandes perdas de produtividade em culturas anuais, inclusive a soja. E ela já foi detectada no estado do Mato Grosso em 2015 e, posteriormente, encontrada no Mato Grosso do Sul, em 2022 e é considerada uma planta invasora. Por isso, pesquisadores da Embrapa, juntamente com o Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil e dos EUA estão alertando e orientando quanto ao uso e a limpeza das colhedoras de algodão usadas pelos produtores. O maquinário é importado dos EUA, e são as principais vias de dispersão de sementes do caruru-palmeri (Amaranthus palmeri) no Brasil.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Soja (Londrina, PR) Dionísio Gazziero, o caruru é uma planta de difícil controle, crescimento agressivo, alta prolificidade e que tem resistência a herbicidas. “Por isso é importante que as colhedoras sejam muito bem limpas e descontaminadas. Estas medidas diminuem o risco de alguma semente passar despercebida. A limpeza evita a introdução em novas áreas e deve ser realizada antes do equipamento se deslocar para outra propriedade, uma vez que as sementes são muito pequenas e de difícil visualização, principalmente quando misturadas aos resíduos das colheitadeiras”, esclarece Gazziero.
Crescimento rápido
O caruru-palmeri se caracteriza pelo seu rápido crescimento. Em condições ideais estas plantas podem crescer de 2 a 4 cm por dia. Este fato pode prejudicar a eficácia dos herbicidas pós-emergentes, pois o atraso na aplicação pode reduzir a sua efetividade. Por este motivo, em áreas que apresentam problemas com caruru-palmeri é muito importante o uso de herbicidas pré-emergentes para auxiliar no seu controle. O controle inadequado pode inviabilizar a colheita, aumentar a necessidade do uso de herbicidas, onerar o custo de produção e ocasionar enormes prejuízos para a agricultura brasileira.
Os órgãos de pesquisa, de defesa agropecuária estaduais e o Mapa trabalham no sentido de montar estratégias para que ela não se alastre. A tomada de decisões governamentais ágeis e fiscalização do cumprimento das medidas fitossanitárias estabelecidas, somadas ao empenho dos produtores, instituições públicas e privadas têm contribuído para a contenção dessa planta nas áreas infestadas. “Entretanto, é necessário o estabelecimento de uma Instrução Normativa federal estabelecendo diretrizes básicas a serem seguidas no caso de detecção da praga. Esta Instrução auxiliaria na agilidade do processo das medidas de contenção da praga, destaca o pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas, MG) Alexandre da Silva.
“A presença dessa nova espécie de caruru, que até então não era registrada em nosso país, cria sérios problemas para os produtores de soja. A informação sobre a forma como essa planta conseguiu entrar no Brasil serve de alerta para todos os agricultores que importam maquinário usado e para os e órgãos de vigilância vegetal e aqueles que utilizam maquinários de terceiros, que transitam com elas de uma área ou um estado para outro”, enfatiza Silva.
O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente, Antonio Cerdeira explica que a planta é facilmente confundida com outras espécies de caruru, comuns no Brasil. “Em caso de suspeita da sua presença, é preciso comunicar ao órgão de defesa agropecuária local para identificação e confirmação da suspeita. Na dúvida, o produtor deve optar pela eliminação da planta em sua área para evitar a sua proliferação”, enfatiza.
O alerta realizado pelo Mapa aos órgãos de defesa agropecuária estaduais e o monitoramento das lavouras realizados por estas instituições têm permitido a identificação precoce de algumas áreas infestadas e contribuído para a redução da velocidade de disseminação dessa espécie, evitando ou retardando um novo problema para a agricultura brasileira.
Estratégias de contenção
Depois de ser classificada como planta daninha quarentenária presente, o caruru-palmeri passa a ser incluída em Programa Oficial de Controle Pragas do Governo Federal.
No Estado do Mato Grosso foi instituído o Comitê de Contenção do caruru-palmeri com o objetivo de apoiar os órgãos de defesa agropecuária (INDEA-MT) nas ações de combate à esta planta daninha. Fiscais estaduais de agropecuária foram capacitados para identificar as espécies e fazer levantamentos nos Estados. Posteriormente, agentes de defesa agropecuária de outros Estados foram capacitados e tem incluído em sua rotina a observação da ocorrência desta planta daninha nas lavouras inspecionadas. Foram realizadas ações voltadas para os agricultores, destacando-se a importância da conscientização do setor sobre o problema assim como na identificação e controle. O engajamento da comunidade agrícola é fundamental para a contenção da praga.
“É importante reforçar e rever a política de fiscalização na importação de maquinários usados, bem como sobre o trânsito de máquinas, principalmente entre Estados depois de ter sido detectada no Brasil“, destaca Gazziero.
Mais informações sobre a caracterização e o manejo do caruru-palmeri podem ser obtidas no Documento 384 publicado pela Embrapa.
O estudo completo é de Dionísio Gazziero, Alexandre da Silva, Omar da Silveira, Steve Duke e Antonio Cerdeira.