O plantio da erva mate foi uma importante atividade agrícola ainda nos tempos do velho Mato Grosso uno. Na chamada região Sul do MT de então, uma indústria ganhou corpo na produção da erva mate. Mas a atividade acabou sendo abandonada. Por isso é importante se constatar nos dias de hoje, um pequeno produtor, também instalado na região Sul, só que do hoje Mato Grosso do Sul, retomar essa atividade.
Instalado em um galão simples, no assentamento Itamarati, em Ponta Porã, chama a atenção pela história por trás do cancheio artesanal de erva-mate. Cancheio é o processo de secagem e moagem das folhas de erva-mate para serem usadas no preparo de bebidas, como tereré e chimarrão.Há cinco anos, José Rodrigues abriu mão da granja e apostou na bebida que é patrimônio imaterial de Mato Grosso do Sul. Antes, porém, a venda de ovos serviu para bancar a pequena agroindústria, que ele se orgulha de ter erguido sem um tostão emprestado.
O caminho até a realização do sonho começou há 12 anos, quando o agricultor familiar começou a plantar o erval. “Na época, entrou um pessoal incentivando a plantar amoras para criação de bicho-da-seda. Acabou virando moda entre os vizinhos, mas eu resolvi fazer as contas: com a erva-mate o rendimento por hectare seria em torno de R$ 300 a mais e eu não precisaria dedicar até os domingos na atividade”, lembra.
Segundo ele, a árvore é nativa da região e não exige muitos cuidados. José se orgulha de não precisar borrifar uma gota sequer de veneno e não viver uma vida que ele chama de “louca”, deixando de aproveitar os prazeres da vida ao viver pelo trabalho em tempo integral.
Ainda sem poder canchear erva-mate, já que na época ainda não tinha estrutura necessária, vendia a produção para empresas do ramo. As companhias eram responsáveis por cortar as folhas e transportá-las até o local de processamento.
O tempo passou e José enxergou em uns frangos que ganhou de presente a oportunidade que faltava para montar a agroindústria. Ele brinca que a venda de ovos trouxe tanta dor de cabeça como recursos para tocar o projeto. “Produtos de origem animal têm muitas regras e uma fiscalização intensa. O pessoal ficava bem em cima mesmo”, comenta.
Foi só terminar de assentar o último tijolo no galpão que o agricultor familiar se desfez dos animais e passou a produzir erva para tereré. O fato de ser artesanal é marketing que fez da erva o ganha pão de José, embora ele ainda a concilie com a lavoura.
“Se somar, eu devo ter investido aqui em torno de R$ 40 mil. Sempre tive vontade de plantar erva-mate. É um serviço que rende. Já cheguei a fazer 400 quilos em uma semana. Além disso, produção vegetal é menos complicada em termos de fiscalização”, explica o pequeno produtor.
Revezes
A produção de José está parada enquanto ele procura um funcionário para trabalhar no cancheio. Ele contratava uma pessoa que morreu recentemente e agora tenta preencher novamente a vaga. Encontrar mão de obra tem sido um desafio.
“Tenho percebido que falta vontade de trabalhar. Conhecimento não precisa ter porque eu mesmo ensino. Por enquanto, voltei a vender para empresas especializadas, que vêm até aqui colher, mas espero em breve retomar a minha produção”, completa.