Por ter se dedicado ao estudo, e inclusive a viagens por todo o trecho da Rota Bioceânica, o professor do curso de Turismo da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul – UEMS, Thiago Andrade Asato, é um dos que, com mais propriedade, pode falar sobre esse tema. E ele tem feito isso, inclusive recentemente, quando participou como palestrante de evento que debateu a Rota Bioceânica, em Campo Grande, promovido pela Associação Colonia Paraguaia. Na ocasião, o professor Thiago se pronunciou sobre a realização do evento, classificando-o como “uma oportunidade singular, porque estudar a Rota há seis anos, e principalmente nesse ultimo ano de 2023, fez com que eu enxergasse um grande avanço com relação a tudo o que diz respeito a Rota. e um dos passos para essa consolidação é a realização de eventos como esse”, destacou.
Na oportunidade também, o diretor cultural da Associação Colonia Paraguaia, Ricardo Zelada, outro que é um expert nesse assunto em Campo Grande, assegurou que o próprio evento promoveu um importante fluxo turístico do Paraguai para Campo Grande, movimentando uma caravana com aproximadamente 50 pessoas, que vieram consolidar esse intercâmbio, Segundo Zelada, daqui para a frente, e ainda mais quando a obra da ponte sobre o Rio Paraguai estiver pronta, o turismo entre paraguaios, argentinos, chilenos para Campo Grande e outras regiões do Brasil só vai crescer e se aprimorar.
O que é a Rota Bioceânica
Aproximadamente 2.200 km separam a capital de Mato Grosso do Sul, Campo Grande, dos portos chilenos, por um novo trajeto rodoviário, que se torna possível, a partir da abertura de caminhos e serviços para novas possibilidades turísticas. Trata-se da Rota rodoviária que ligará os dois oceanos: Atlântico e Pacifico, facilitando o comércio entre a América do Sul e o Sudeste Asiático. A Rota Bioceânica inclui trechos rodoviários no Brasil, Paraguai, Argentina e Chile.
“Os grandes diferenciais da Rota Bioceânica são as singularidades dos países que a compõem”, explica Thiago Andrade Asato, o professor da UEMS, que é Mestre e Doutor em Turismo pela UCDB (Universidade Católica Dom Bosco).
O professor Thiago Asato acredita que o turismo sul-mato-grossense terá um crescimento exponencial. “Considerando o trecho de Campo Grande a Porto Murtinho, temos as águas transparentes do Rio da Prata em Jardim, que deve ter um incremento nas vendas turísticas junto a Bodoquena e Bonito, este último já consolidado
Na sua avaliação, a capital Campo Grande terá destaque principalmente pela procura pelo Bioparque Pantanal e pelos corredores gastronômicos que a cidade vem aprimorando ao longo dos anos, além do turismo de natureza em seu entorno, onde se enquadra também a modalidade do turismo de observação de aves.
“Oficialmente não temos uma rota turística sul-americana entre países. No mundo, a viagem mais conhecida entre países é o Caminho de Santiago de Compostela. Considero também um trajeto importante a Rota 66, que não é entre países, mas pela dimensão geográfica do itinerário – passa por 5 estados norte-americanos – merece ser estudada como benchmarking“, avalia.
Além de um grande entusiasta pela concretização da Rota, o professor estuda suas potencialidades com o olhar para o turismo desde seu doutorado em Desenvolvimento Local em 2018.
“A vegetação de Chaco Paraguaio é singular. Na Argentina e Chile, temos as paisagens desérticas, que não há no Brasil, como o Deserto de Sal e o Deserto do Atacama. Existe ainda a Bolívia como destino indutor para aqueles que desejarem estender a viagem”, acrescenta o estudioso, que já percorreu várias vezes parte do trecho da Rota Bioceânica, entre o Brasil e Paraguai.
De acordo com o professor, houve uma melhora considerável de infraestrutura em Porto Murtinho, com abertura de um restaurante com espaço para mais de 400 pessoas, além de um amplo espaço de estacionamento para caminhões, já se antecipando ao grande movimento que se espera no trecho de fronteira com Carmelo Peralta, no Paraguai.
“A parte infraestrutural é o primeiro indício de construção de uma rota de turismo e é a fase que vivenciamos no momento. As lacunas estão em parte das estradas em trecho paraguaio e na construção da ponte bioceânica, que já ultrapassa os 25% de sua etapa de construção”.
Assato pontua que nas cidades de fronteira espera-se uma uniformidade em termos de ofertas que compõem a cadeia turística como opções de meios de hospedagem (hotéis, pousadas, hostels e serviços de aluguel por temporada), crescimento do número de agências de viagens, casas de câmbio, oferta gastronômica e entretenimento para diferentes perfis de viajantes.
“Os pontos de apoio na estrada vão evoluir a medida que a ponte binacional se aproxime da sua conclusão. Com esta proximidade, plataformas de aplicativos de motoristas devem ocupar mais espaço nas cidades de fronteira. A gestão da saúde também deve ser pautada com implantação de mais leitos e clínicas ou hospitais”, diz.
Cenários Deslumbrantes
No chaco paraguaio, o turista poderá apreciar lagoas de água salgada e presença de árvores como o palo borracho, típico daquela vegetação. A gastronomia paraguaia já presente em Mato Grosso do Sul será destaque ao longo do trecho da Rota, com menção honrosa ainda para as empanadas argentinas e os vinhos argentinos e chilenos.
“O turismo cultural de Porto Murtinho, Salta, Jujuy e San Pedro de Atacama ficarão ainda mais evidenciados, bem como o patrimônio imaterial, como as danças e festividades: a Pachamama, na Argentina, é uma das mais conhecidas na região. O turismo de observação de estrelas será outro destaque em trecho chileno, bem como o enoturismo no Chile e Argentina”.
O estudioso ainda vislumbra possibilidade para o turismo de negócios. “Certamente se consolidará a partir da concretização da ponte binacional, bem como o turismo de contemplação, que terá como ponto forte a vista dos dois lados da ponte binacional”.
A Rota da Sustentabilidade
O professor analisa que do ponto de vista da sustentabilidade turística, a educação é o principal indutor da mudança de paradigma. Ele acredita que a inserção de uma grade curricular escolar no ensino médio, contemplando eixos como empreendedorismo e idiomas pode ser um caminho de conscientização e capacitação.
“É o segundo elemento característico na construção de uma rota internacional de turismo. Pedágios nos trechos rodoviários, que se voltem para a preservação ambiental, com multas que pesem no bolso do contribuinte, também podem ser pensados. Esperamos que haja leis nos primeiros anos da nova Rota que tragam subsídios para os empresários locais se prepararem com antecedência para criar caminhos uniformes de infraestrutura, pessoas capacitadas e variedade de produtos e serviços”, garante.
Para o professor Asato, a Rota Bioceânica vai atrair todos os tipos de viajantes, “desde a geração Z, iniciando no mercado de trabalho e ansiosa por experiências, principalmente pela lacuna de entretenimento e expansão da ansiedade e traumas que a pandemia do Covid 19 trouxe, até viagens de grandes famílias e pessoas em busca de um resignificado para suas vidas, além da experiência de conhecermos três culturas diferentes em uma única viagem.”