As mudanças climáticas têm produzido impactos em diferentes regiões do mundo, e mitigar seus efeitos tem sido um dos principais desafios globais. Em relatório inédito lançado nesta terça (5), uma equipe internacional de mais de 200 pesquisadores coordenada pela Universidade de Exeter aponta que as atuais medidas das governanças globais não têm sido suficientes para travar a crise climática e ecológica. O documento foi apresentado na 28ª Conferência das Partes realizada pela Organização das Nações Unidas, a COP28, nos Emirados Árabes Unidos.
Os cientistas avaliaram 26 pontos de não retorno, incluindo a Amazônia. Pontos de não retorno são limiares que, se ultrapassados, desencadeiam uma transformação muitas vezes rápida e irreversível nos ecossistemas, com efeitos positivos ou negativos. Assim, mesmo uma mudança aparentemente pequena pode disparar uma grande transformação na configuração de determinadas regiões do planeta. Por exemplo, limiares de aquecimento global, chuva regional e desmatamento caracterizam pontos de não retorno que, se cruzados, causariam a perda da capacidade da floresta amazônica de se autorregenerar.
No documento, são apontadas seis recomendações para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, incluindo a eliminação gradual dos combustíveis fósseis e de emissões de gases de efeito estufa até 2050, e a promoção de esforços em cada país para combater as mudanças climáticas. Com o aquecimento global a caminho de ultrapassar 1,5°C, é provável que sejam desencadeados pelo menos cinco pontos de ruptura do sistema terrestre – incluindo o colapso de grandes mantos de gelo e a mortalidade generalizada dos recifes de coral de águas quentes.
Dentre os cientistas que produziram o relatório estão os brasileiros Marina Hirota e Bernardo Flores, ambos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que contribuíram com apontamentos em relação à Amazônia. Segundo Hirota, já é possível identificar um aumento de 2 a 4 graus Celsius na temperatura global. “Se continuarmos como estamos, a mudança de temperatura global afetará o regime de chuvas e de temperatura regionais na Amazônia de uma forma que ficará insustentável ter floresta”, enfatiza a pesquisadora. Segundo a brasileira, “mesmo que as emissões de carbono ou o desmatamento fossem zerados neste momento, por exemplo, ainda teríamos impactos relevantes na Amazônia”.
De acordo com o documento, a velocidade da eliminação progressiva dos combustíveis fósseis e o crescimento de soluções com zero emissões de carbono determinarão o futuro de milhões de pessoas. “Estamos em um momento no mundo crucial para mudar a trajetória socioeconômica do nosso planeta, já que as nossas escolhas têm impacto nos ecossistemas do mundo, inclusive nos do Brasil”, afirma Hirota.
O relatório aponta que, sem medidas urgentes para minimizar os efeitos das mudanças do clima, as sociedades ficarão sobrecarregadas, à medida que o mundo natural se desintegra. De acordo com o chefe de Ciência, Mudança de Dados e Sistemas do “Bezos Earth Fund”, Kelly Levin, “as mudanças climáticas definem o nosso tempo. É essencial que façamos avançar a ciência sobre os pontos de ruptura globais para enfrentar as ameaças e oportunidades que se avizinham”.