Uma onça pintada macho com menos de dois anos de idade foi sedada e submetida a exames de Raio-X e Ultrassom em um ambulatório móvel montado dentro do Pantanal. O atendimento aconteceu no fim de semana passado (24 e 25 de junho) por pesquisadores do Instituto Reprocon, bombeiros e policiais militares ambientais, e se trata de um fato inédito, conforme o professor da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), médico veterinário Gediendson Ribeiro de Araújo. “Exames de ultrassom já fizemos, mas Raio-X foi a primeira vez. Até eu fiquei admirado de ver”, afirmou.
O motivo que levou a equipe médica ao Pantanal não está no mesmo nível da ação. “Recebemos um vídeo mostrando que um pescador jogou um peixe ainda fisgado no anzol para uma onça que estava na margem do rio Miranda. Pensamos que o anzol poderia ter ficado no estômago do animal, o que o levaria à morte”, contou. A equipe decidiu ir até a região em que o fato aconteceu, próximo à pousada Morro do Azeite, município de Miranda, para ver a possibilidade de capturar a onça.
Encontraram uma onça nas proximidades do local em que o pescador jogou o peixe com anzol. Fizeram uma armadilha e conseguiram capturar o animal com sedação. Se constatassem que havia anzol no estômago, a onça seria trazida a Campo Grande para ser submetida a cirurgia. Felizmente, os exames mostraram que estava tudo bem com o animal, que depois de ganhar uma coleira de monitoramento, foi solta na mesma região.
O professor Araújo chama a atenção para um grave problema ambiental que ocorre naquela região. Pessoas estariam fazendo cevas para as onças com peixes e até carne para atraí-las às barrancas do rio a fim de servirem de atrativos para os turistas. “Isso é prejudicial para o animal, que fica exposto e vulnerável, e também é perigoso para os humanos”. O professor conta que aconteceu recentemente em outro local de uma onça atacar uma pessoa num ponto de ceva.
O Instituto Reprocon realiza trabalho de conservação com felinos do Pantanal, autorizado pelos órgãos ambientais. Após sedar as onças, os técnicos retiram amostras de sêmen e de tecidos para compor um banco genético desses animais. Pelo menos 10 onças são monitoradas com coleiras que permitem rastrear o território que percorrem e com isso estudar seu comportamento. Ante a constatação de cevas para atrair onças, estão fixando placas de conscientização e advertência sobre os danos e riscos dessa prática.