Em meio à fome e desnutrição, Yanomamis receberam linguiça e sardinha no governo passado

Reportagem do jornal Estado de São Paulo denunciou que, mesmo contrariando a cultura do povo yanomami e as recomendações médicas de saúde e segurança alimentar, a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) gastou cerca de R$ 4,4 milhões, para envio ao território Yanomami, alimentos não consumidos por indígenas. E mais, isso se deu em plena crise humanitária na região do Vale do Javari (AM).

A Funai – Fundação Nacional do Índio também participou do contrato de valor estratosférico para a compra de cestas básicas contendo sardinha e linguiça calabresa. Ambos alimentos não fazem parte da alimentação daquela população. Além de não serem os alimentos adequados e saudáveis, não há registros de que os produtos foram entregues integralmente.

O peixe enlatado e o embutido não fazem parte da dieta local. À época, a área técnica alertou o governo e o Ministério Público a respeito dos hábitos alimentares dos indígenas.

“Os yanomamis não comem sardinha nem calabresa”, informou a coordenadora da Frente de Proteção Etnoambiental Yanomami, Elayne Rodrigues Maciel, responsável pelo órgão da Funai com atribuição exclusiva sobre a Terra Indígena Yanomami, em depoimento ao MP.

A declaração de Elayne foi corroborada pelo vice-presidente da Hutukara Associação Yanomami, Dário Kopenawa, representante das comunidades que vivem no território: “Os yanomamis não comem sardinha, não comem calabresa. Então, eles realmente jogavam fora, porque isso não é suficiente. Isso não mata a fome”. Na ação em que ela foi ouvida, de 2021, o MP pediu a condenação da União para considerar estudos antropológicos e nutricionais na composição das cestas. A Justiça acatou o pedido.

O Estadão também apurou que, mesmo depois da condenação, o governo Bolsonaro não só voltou a adquirir os alimentos como assinou a maior compra já realizada para a terra indígena de linguiça e sardinha em lata.

A Funai sob o governo Bolsonaro também comprou 19 toneladas de bisteca para enviar ao Vale do Javari (AM), mas a carne congelada não chegou às aldeias. Os contratos seguem em vigor no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Procurada, a Funai disse que irá avaliar as compras de bisteca, mas não comentou a compra de sardinha e calabresa.

O delegado Marcelo Xavier, presidente da Funai no governo Bolsonaro, não se manifestou. A empresa contratada para vender ao governo linguiça e sardinha enlatada foi aberta em 2020, apenas dois meses antes da assinatura do primeiro contrato. Com sede em Boa Vista, a H. S. Neves Junior rapidamente se tornou a campeã nacional em vendas sem licitação para a Funai na gestão Bolsonaro. Helvercio Sevalho Neves Junior, de 26 anos, se apresenta como dono da empresa. Em janeiro de 2023, três anos depois de abrir a firma, ele teve que devolver R$ 3 mil para a União de auxílio emergencial que solicitou indevidamente durante a pandemia da covid-19. O benefício foi criado para atender pessoas desempregadas e trabalhadores informais, que ficaram sem renda e precisavam ficar em casa. Com uma empresa faturando milhões do governo, ele recebeu o pagamento de forma irregular.

Foto: Agência Brasil-EBC

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