Segundo o Censo 2022 Indígenas, Mato Grosso do Sul contabilizava naquele ano mais de 115 mil indígenas. Em número de população, o estado está em terceiro lugar no Brasil, atrás apenas do Amazonas e da Bahia. Em Dourados, MS, onde realizou-se a Tecnofam 2024, entre 16 e 18 de abril, há cerca de 12 mil.
No segundo dia do evento, voltado para a agricultura familiar, uma das atividades foi o Painel “Produção de alimentos em terras indígenas: respeito às tradições, desafios, sustentabilidade, protagonismo e renda”. Palestraram a engenheira agrônoma e técnica de campo e instrutora do Senar /MS, Tainara Terena, e o coordenador-geral de Promoção do Bem Viver Indígena, ligado ao Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), Leosmar Terena.
A abertura foi realizada com a orquestra Guarani, da aldeia tey’ikue (Caarapó/MS), seguida pelas falas da diretora-executiva de Negócios da Embrapa, Ana Euler; Marina Vianna, coordenadora-geral do escritório do MDA em Mato Grosso do Sul; e Rose Pondé, diretora do Departamento de Apoio à Aquisição e à Comercialização da agricultura familiar do MDA.
Ana Euler contou que, quando os portugueses chegarem no Brasil já havia mais de 200 tipos diferentes de alimentos domesticados pelos indígenas. Ela disse também que o compromisso da Embrapa com os governos é fortalecer a diversificação da produção dos alimentos dos povos indígenas. “Existem diversas agriculturas no Brasil. A nossa diversidade é o nosso diferencial”, afirmou. Marina afirmou que o reconhecimento dos territórios indígenas “é ter sua origem reconhecida”. Rose, por sua vez, contou que os indígenas a ensinaram muito do que ela sabe hoje em dia e enfatizou a necessidade de “se fazer um Brasil sem fome, em que as pessoas tenham acesso a quem precisa dos alimentos”.
Palestras
Tainara começou a palestra falando sobre sua realidade como estudante do ensino básico, médio e universitário. “Nós não estamos totalmente preparados para chegar às universidades. É fácil entrar, mas é difícil sair. Temos que ser persistentes, ter ambição”, indicou. Ela chamou a atenção para o aumento de áreas indígenas. “Antes de aumentar as áreas, é preciso que os indígenas sejam capacitados, tenham insumos agrícola, tenham assistência técnica rural. É preciso levar informação para trabalharem de forma escalonada em áreas pequenas”, pontuou Tainara.
Leosmar Terena falou sobre a construção de agroflorestas em áreas indígenas, mas antes disse que “é importante a sociedade reconhecer a realidade indígena e ver que o que chega nos centros urbanos também vem da agricultura indígena”. Segundo ele, dados do último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU mostram que as tecnologias dos povos indígenas são uma resposta à desertificação, às mudanças climáticas. “Os povos indígenas são estratégicos para combater a fome”, garantiu Leosmar, dizendo que é necessário que os valores da agricultura tradicional, como as agroflorestas, sejam preservadas e difundidas em rede com as instituições de pesquisa e ensino.
Após as palestras, foi organizada mesa de debates com o público presente, contando com a presença de Rogério Ferreira da Silva, professor da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems), o primeiro indígena a ter doutorado no Brasil.