Em Jaraguari, curvas de nível garantem proteção de rios e recuperação de solo na agricultura familiar

O Projeto Fertivida faz uso da técnica de curvas de nível em sítios do Distrito de Bonfim. O objetivo é acabar com erosão de solo e de estradas e o assoreamento de córregos. A ação também agrega valor às pequenas propriedades e aos produtos da agricultura familiar.

A segurança alimentar e hídrica do planeta passa pelo manejo correto do solo. Olhar para a questão da lida com a terra é tão importante quanto pautar temas como o uso racional da água e o combate de desperdício de alimentos nos domicílios ou no setor produtivo.

Cientes dessa questão é que 15 agricultores familiares de Bonfim, distrito do município de Jaraguari, têm utilizado a técnica da curva de nível, também conhecida por “terraceamento”, em pequenas propriedades para resolver problemas que já são antigos conhecidos da comunidade, como: erosão do solo, assoreamento de córregos e rios, voçoroca, destruição de estradas vicinais, alagamento de casas em período chuvoso, etc.

“A curva de nível é tudo na terra porque ela segura a água na área de cultivo e evita problemas de erosão do solo ou enchentes nas casas”, diz o agricultor familiar João Batista, que acompanha os trabalhos das máquinas, em uma área de 13 hectares de sua propriedade, enquanto planeja os próximos passos de trabalho. “A chácara tem 35 hectares e o terreno tem muito declive, então, sem curva de nível a água da chuva leva tudo embora, joga terra no córrego. Já com o terraceador a gente consegue preparar a terra e eu posso pensar em reformar a pastagem, cuidar do plantio das ramas de mandioca”.

Investimento técnico que chegou aos pequenos produtores do Distrito de Bonfim sem comprometer o orçamento familiar, isso porque todo o maquinário – terraceador, trator, caminhão e escavadeira – é cedido sem custos aos produtores. Algo que só é viável graças à parceria entre a Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural) e a Prefeitura de Jaraguari por meio do Projeto Fertivida (Projeto Municipal de Incentivo a Fertilização e Conservação do Solo e da Água).

A curva de nível ou terraço é uma técnica conservacionista muito utilizada em áreas com declive para reter a água da chuva em área de cultivo e com isso promover a proteção do solo e áreas de nascentes. Na prática, trata-se da construção de linhas horizontais, canais ou aterros, no sentido transversal a inclinação do terreno, com espaçamentos dimensionados para diminuir o fluxo da água e minimizar a remoção de nutrientes e sedimentos.

Milenar, a curva de nível foi criada pelos Incas, antiga e desenvolvida civilização sul-americana. Na Cordilheira dos Andes, onde eles viviam, a maior parte dos terrenos é alta, havendo poucas áreas planas. Assim, era fundamental aproveitar ao máximo cada pedaço de terra para garantir a agricultura. Atualmente, com a evolução da agricultura, a técnica tem sido aperfeiçoada com o uso da tecnologia, maquinário, etc.

Conservação e produção

“Visitamos a região e pudemos ver de perto como está o trabalho para conservação da microbacia do Córrego Bonfim. Uma parceria que tem apresentado resultados positivos ao meio ambiente e a agricultura familiar, porque agrega valor de mercado ao imóvel e aos produtos que são cultivados aqui”, pontua o diretor-presidente da Agraer, Washington Willeman, ao observar que “tudo isso vai ao encontro com as orientações do governador Eduardo Riedel de promover uma gestão digital, inclusiva e verde”.

E por falar em verde, quem está feliz com a coloração do pasto que acabou de ser reformado é o agricultor Francisco Lúcio de Assis que, ao lado da esposa Lúcia, está há mais de 30 anos nas atividades de pecuária. “Digo que é um prêmio que chegou porque as curvas de nível trouxeram qualidade para o solo. A gente pode ver o investimento em insumos ficar na terra, antes qualquer grande chuva que dava, acabava que ia tudo embora com a água que caía, pegava velocidade e formava correnteza. Era um transtorno na região”, conta ele que, também, se recorda da origem da comunidade.

“O distrito veio da colônia japonesa há uns 70 ou 80 anos e era de costume não ter cerca de divisa entre uma propriedade e outra. Daí que não era feito nivelamento, a água da chuva era direcionada para os cantos, divisas entre as chácaras e com o passar dos anos, a força da água [chuva] e a lavagem da terra foi se formando erosões, grandes valas nas propriedades e até nas estradas, sem contar o assoreamento dos rios”, relata Francisco.

Projeto Fertivida

Todo um cenário que, ao longo do tempo, foi se degradando e acabou por gerar sérios riscos de infraestrutura e produção na região que, consequentemente, desembocou em forma de demanda na Prefeitura de Jaraguari. Situação que deu origem a criação do projeto no município.

“As curvas de nível chegaram como uma solução tanto para a agricultura familiar quanto para o bem-estar dos moradores que sofriam com enchentes e erosões nas estradas vicinais. O Projeto Fertivida prevê a recuperação de 400 hectares, dos quais 165 hectares já foram recuperados. Todo um conjunto de ações que inclui preenchimento de valas, transporte de insumos, cascalhamento e levantamento de estradas para, no futuro, chegar às matas ciliares. É preciso resolver os desafios no campo antes mesmo de se pensar em ações em áreas de nascentes”, explica o prefeito Edson da Farmácia.

“Com as curvas de nível a expectativa é resolver os problemas das erosões na região e tornar algumas propriedades como unidade de referência para que mais agricultores familiares conheçam o Projeto Fertivida e busquem os serviços de assistência técnica”, enfatiza o gerente regional da Agraer de Campo Grande, Valdecir Alves.

Recentemente, uma visita técnica foi promovida no Distrito de Bonfim que contou com a presença do dirigente da Agraer, Washington Willeman, o prefeito de Jaraguari, Edson da Farmácia, o secretário de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente, Kleber Costa, o gerente Regional da Agraer de Campo Grande, Valdecir Alves, e o coordenador municipal da Agraer de Jaraguari, Mamede Borges.

(Ascom da Agraer)

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