A Petrobrás e o setor de fertilizantes: uma questão de soberania alimentar

Está muito claro que existem divergências entre as intenções do Governo e o projeto de futuro que a Petrobrás apresenta. O setor de fertilizantes claramente é um dos que vêm sofrendo com essa divergência. Projetos importantes como a FAFEN-MS (indústria em construção em Três Lagoas MS) vêm sendo alvo de investida de multinacionais do ramo de fertilizantes, mas não têm sido os únicos. A FAFEN-PR, que foi posta em hibernação durante o governo da fome, segue fechada, apesar de já ter sido concluído o GT que tratou do seu retorno. A intenção da Petrobras de realizar parcerias no negócio não pode se apresentar como favorecimento ao mercado privado, que promove a objetificação do propósito da produção como mero item de mercado e desconsidera as necessidades nacionais.

Não cansaremos de afirmar que deixar o setor de fertilizantes nas mãos do mercado é claramente um erro. Hoje, a Unigel mantém a FAFEN-BA parada. A unidade segue sem produzir e, com as crescentes restrições de exportação impostas pela China, a tendência do mercado internacional de fertilizantes é enfrentar o aumento da escassez, pois sozinha a China é responsável por 20% do mercado global e 15% das importações brasileiras de nitrogenados.

A oscilação no preço dos fertilizantes é algo natural do mercado, pois existem períodos específicos para realizar a suplementação do solo. Mas, com as gritantes mudanças climáticas, a dinâmica da produção agrícola tende a mudar de forma cada vez mais rápida e mais intensa. Um projeto de país que pretende manter a segurança alimentar do seu povo passa obrigatoriamente pela garantia do fornecimento de fertilizantes, coisa que claramente não é pauta do setor privado, que durante a crise dos fertilizantes optou por exportar e garantir lucros exorbitantes, enquanto 33 milhões de pessoas foram empurradas para a fome.

Quando falamos reiteradamente que a Petrobrás está sendo sabotada pelos bolsonaristas que permanecem em cargos de gestão, estamos falando de casos como esses do setor de fertilizantes, pois são eles que impedem a evolução dos projetos e o efetivo retorno da empresa para o setor que é fundamental tanto para a garantia do alimento na mesa quanto para a transição energética e fundamental para a maior parcela do PIB, o agronegócio. Estaremos atentos ao Plano de Negócios da Petrobrás. O fortalecimento do setor precisa estar presente se o objetivo do governo for garantir de fato nossa soberania alimentar.

Albérico Santos de Queiroz Filho é diretor do Sindipetro Unificado

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