O melanoma e a tatuagem: Um olhar atento sobre a pele – Dezembro Laranja

As modificações corporais são, na maioria das vezes, realizadas como rito de passagem e são sinalizadoras de mudanças ocorridas na vida de quem decide colocar um piercing ou fazer uma tatuagem. Sabendo que por traz de cada uma dessas práticas existe uma história eu, sempre que me é permitido, procuro entender o que acontece através do desenho que vejo na pele.  Aprendi que colocar um piercing na orelha pode significar, como me explicou um menino de quinze anos, que precisamos ouvir mais e falar menos ou que ao tatuar um símbolo de infinito, juntas, neta e vó firmaram um pacto de cumplicidade eterna.

A paciente daquela manhã tinha uma tatuagem no dorso que chamou a minha atenção pela delicadeza do desenho e também por saber que quem opta por tatuar um apanhador de sonhos, procura por proteção espiritual e mística, por cura e para amedrontar e espantar os males que muitas vezes nos cercam e não percebemos. Porém, a história fica mais interessante quando pergunto qual o motivo da consulta e ela me explica que foi encaminhada pelo tatuador, que notou uma pinta muito feia nas suas costas no momento de desenhar a tatuagem e pediu que ela procurasse um dermatologista. Ao examiná-la encontramos uma lesão compatível com o diagnóstico de Melanoma Maligno.

O melanoma é uma doença caracterizada pela formação de células malignas (câncer) a partir dos melanócitos que são as células que dão cor a nossa pele e que pode aparecer em qualquer lugar da pele ou sobre uma pinta pré-existente. A história familiar de melanoma e a exposição à luz solar são fatores que facilitam o seu surgimento. Mudança na aparência de pintas ou sinais podem significar uma transformação em melanoma. O diagnóstico clinico é auxiliado por exames (dermatoscopia e biópsia) que avaliam as pintas e sinas, e o tratamento depende do estágio em que a doença se encontra no momento do diagnóstico. Quanto mais precoce ele é descoberto melhores são as possibilidades de tratamento e sobrevida.

Sabendo que o melanoma atinge 8,4 mil pessoas por ano no Brasil, atitudes importantes como evitar o sol entre 10:00 e 16:00 horas, ficar na sombra sempre que possível, usar fotoprotetor com FPS acima de 30 reaplicando a cada duas horas ou quando nadar ou suar em excesso e monitorar constantemente as suas pintas, podem ajudar na prevenção do aparecimento do melanoma.

Uma regra muito fácil para avaliar suas pintas é o ABCDE:

  1. Assimetria: ao dividir a pinta com uma reta, as duas metades não são iguais
  2. Bordas irregulares
  3. Cor: duas ou mais cores
  4. Diâmetro: maior que 5 milímetros
  5. Evolução: mudança de tamanho, forma e cor

Este caso mostra que um olhar atento sobre a nossa pele pode modificar a história de uma doença. O tatuador pode ter salvado a vida da nossa paciente e o filtro de sonhos, para aqueles que acreditam, pode realmente ter de alguma forma espantado os males e fornecido proteção.

O Dezembro Laranja é o mês de conscientização sobre o câncer de pele e no próximo dia 02 a Sociedade Brasileira de Dermatologia realizará em todo o Brasil uma campanha de exames gratuitos para toda a população. Saiba mais em: www.sbd.org.br/dezembroLaranja/

Texto: Dermatologista Dra. Lígia Márcia Martin.
do site Portal Verdade

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