Publicado na revista Science of The Total Environment, um artigo assinado por 42 cientistas brasileiros e estrangeiros denuncia que a hidrovia Paraguai-Paraná pode extinguir o Pantanal, hoje conhecido mundialmente.
Os prejuízos à maior planície alagável do planeta e grande reduto de biodiversidade viriam sobretudo pelo planejado aprofundamento de 700 km do canal natural do Rio Paraguai em seu trecho superior.
Essa dragagem permanente afetará regiões de alto valor ecológico, incluindo parques, terras indígenas e outras áreas protegidas, reconhecidas como patrimônios mundiais e reservas da biosfera pelas Nações Unidas.
Isso tudo permitirá a navegação, mesmo na seca, de barcaças lotadas de itens como soja, açúcar, milho, cimento, ferro e manganês até portos oceânicos na boca do Rio da Prata e, dali, ao mundo.
O artigo alerta que as obras desconectarão o rio de sua planície, encolherão o período e a área alagada anualmente, “resultando em grave degradação da diversidade biológica e cultural do Pantanal”.
Como ((o))eco contou, a hidrovia de 4 mil km é implantada por meio de projetos, investimentos e licenciamentos pulverizados pelos governos do Brasil, Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai.
Mas, apesar dos vultosos investimentos financeiros e técnicos, o sucesso da empreitada é questionado diante dos impactos ambientais, culturais e sociais do projeto, incluindo alguns supostamente não pesados pelos países.
O volume de água no bioma encolhe por ações humanas como desmate e crise do clima. Entre 2019 e 2021, foi impossível navegar mesmo em trechos naturalmente profundos do rio Paraguai, por meses a fio.
Por esses motivos, os cientistas sugerem modos alternativos e menos impactantes para transportar as commodities produzidas em cada país até terminais de exportação, como as ferrovias.
Drogas apreendidas este ano no Paraná, fronteiriço com Paraguai e Argentina. Foto: BPFRON / Divulgação
Não bastando os riscos socioambientais da megaobra de infraestrutura, a hidrovia paraguai-paraná pode ser a principal rota para saída de drogas ilícitas na América do Sul.
Conforme o portal argentino Infobae, os narcóticos chegam em voos clandestinos no Paraguai e, dali, tomam carona em embarcações rumo à Europa e outras regiões do planeta.
Em 2021, por exemplo, 23 toneladas de cocaína foram apreendidas em contêineres em portos da Alemanha e da Bélgica. As cargas chegaram aos países europeus num navio que partiu do Paraguai.
Autoridades dos Estados Unidos, Colômbia e Brasil alertam que sobretudo o Chaco paraguaio se tornou um território chave do narcotráfico graças à falta de controle governamental, traz a reportagem.
As conclusões são de uma investigação apoiada pelo Projeto de Reportagem sobre Crime Organizado e Corrupção (OCCRP, sigla em Inglês) e pelo Centro Latino-
americano de Investigação Jornalística (CLIP, sigla em Espanhol).