Para evitar problemas graves de impactos nas lavouras, oriundos do chamado milho voluntário, também denominado de planta guaxa ou tiguera, considerada uma planta daninha que precisa ser controlada, a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul realizou na terça-feira (11), a audiência pública com o tema “A importância da eliminação do milho guaxo na produção agrícola de Mato Grosso do Sul”. O evento foi uma indicação do Sindicato Rural de Dourados.
Proposto pelo deputado estadual Renato Câmara (MDB), o encontro foi realizada no Plenarinho Deputado Nelito Câmara com a participação de representantes de sindicatos rurais, associações, cooperativas, comerciantes, consultores, lideranças do setor produtivo, além da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Dourados) e Governo do Estado.
O engenheiro agrônomo e especialista na cultura do milho, Paulo Roberto Garollo, ministrou a palestra “Manejo da cigarrinha do milho e do complexo de enfezamento”. Ele explanou sobre os dez primeiros passos, um em seguida do outro, para o bom manejo e controle da cigarrinha do milho. “Este tema é bastante amplo e de extrema importância e que está focado no ministério da agricultura. O primeiro passo é o manejo do milho voluntário – que é qualquer planta de milho que nasce fora de uma área de cultivo de milho. Principalmente na região do Centro-Oeste é o milho que nasce no meio da soja que é cultivada no primeiro plantio, de primeira safra, ou plantio de verão. Então essas plantas precisam ser mais observadas porque o manejo é imprescindível e é o primeiro passo no manejo da cigarrinha”, iniciou o palestrante.
No decorrer de sua apresentação, o pesquisador elencou sobre qual e o melhor momento de fazer o manejo do milho voluntário, bem como o controle e os principais produtos para utilizar. “No processo de transmissão das cigarrinhas, os agentes causais sobrevivem nas plantas vivas. Com o milho guaxo é muito pior, não só por manter a espécie da praga, mas por manter os agentes causais, através de plantas vivas. Vejam o impacto que isso pode causar dentro de um sistema agrícola, dificultando assim o manejo da cigarrinha. Então, qual é o momento de se fazer o manejo? Quando estamos com a maioria das plantas em estádio fenológico de quatro folhas (V4). É neste momento que é necessário controlar para a cigarrinha não proliferar, pois ela pode sobreviver até seis semanas sem se alimentar”, lembrou o agrônomo, mostrando a importância da contagem de número de folhas.
Ele também sinalizou sobre o manejo químico e os principais herbicidas de milho voluntário, respeitando o momento correto da aplicação, além da boa regulagem da máquina. Ele mostrou que os recursos e os produtos destinados para isso existem e os agricultores precisam aplicar para evitar a perda de parte de espigas ou grão. O especialista na cultura do milho acrescentou que é essencial observar também a questão do transporte de grãos. “Muitas vezes não se nota o enlonamento ou se o caminhão de transporte está correto. Se algo estiver errado e neste momento chover, vai nascer o milho tiguera”, disse. Finalizando sua apresentação, Paulo Roberto Garollo mostrou a importância de se ter ações mais específicas para conter a praga, aumentar a produção da área e consequentemente iniciar com mecanismos de fiscalização e controle do milho tiguera.
Viroses e enfezamento do milho
Em seguida, a Fundação MS apresentou o Programa de Enfrentamento do Complexo de Viroses e Enfezamentos no Milho (Previne) concretizado pela entidade e parceiras, como Governo do Estado e Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso do Sul (Aprosoja/MS). O Diretor Executivo da entidade, representando o Sistema Famasul, Alex Marcel Melloto, comentou a relevância em trazer para a Assembleia Legislativa um pouco da ciência. “Já estamos na terceira safrinha de um programa exclusivo para estudar o complexo de enfezamento, como chamamos. Quero citar aqui que Mato Grosso do Sul é exemplo em proporcionar essa discussão em um ambiente institucional, onde conseguimos falar de maneira tão próxima”, reforçou.
O engenheiro agrônomo, professor doutor em produção vegetal e pesquisador de fitotecnia do milho da Fundação MS, André Luis Faleiros Lourenção, apresentou o programa, criado para ajudar o produtor rural a tomar as melhores decisões quanto ao manejo dos vetores e das doenças. Ele explicou como construíram o programa pensando na força da pesquisa e ferramentas para esta temática. “Dentro disso, o manejo do milho tiguera em meio à soja é um dos fatores principais deste programa. São três anos de desenvolvimento com várias linhas de pesquisa e baseado em pilares importantes desta doença. Estamos trazendo resultados mais robustos que o produtor rural vai, aos poucos, utilizando na sua atividade”, expôs.
A temática boas práticas para o manejo da cigarrinha do milho foi abordada pelo engenheiro agrônomo, professor PHD da Universidade Federal de Dourados e pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Crébio José Ávila. Ele mencionou sobre planejamento e as práticas para reduzir a população do vetor e inóculo dos enfezamentos. Ele também citou os enfezamentos do milho, os sintomas e a intensidade na fase reprodutiva, além dos danos causados à produção. O palestrante esclareceu o que fazer antes do plantio, na semeadura ou fase inicial e na colheita do milho.
De acordo com o representante do Governo do Estado, secretário executivo da Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), Rogério Thomithão Beretta, a audiência pública representa democratizar a informação e se fortalece com a presença de pesquisadores e técnicos renomados que trazem informações preciosas. “Nós do Governo do Estado temos um sistema de trabalho apoiado em câmaras setoriais e grupos técnicos específicos. Assim que estamos tratando a ocorrência da cigarrinha e enfezamento do milho desde 2020, quando aconteceu o primeiro sinal de alerta. Então estamos conduzindo por meio de um protocolo de pesquisas elaborado em parceria com instituições e liberando recursos através do nosso fundo do milho e da soja”, apontou.
O presidente da Associação dos Engenheiros Agrônomos da Grande Dourados (Aeagran), Rodrigo Elias de Oliveira, lembrou o quanto é importante o debate para a economia no ramo da cobertura de seguro agrícola. “Toda dificuldade de produção que as pragas trazem para as nossas lavouras acabam gerando desconto no momento que o produtor precisa de indenização”, salientou.
Com a mediação do engenheiro agrônomo e pesquisador da Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), Eduardo Barreto Aguiar, foi realizada uma mesa redonda com participação dos presentes e palestrantes. Os encaminhamentos do evento serão transmitidos de forma oficial ao Governo do Estado.