O fenômeno El Niño – aquecimento das águas do Oceano Pacífico – que influencia no padrão de chuvas no Brasil como um todo, neste ano de 2023 e nos próximos dois anos, terá uma força maior do que têm se manifestado em anos anteriores. E esse fato está preocupando, principalmente, a pesquisa, os técnicos e os produtores agrícolas, pois poderá provocar alterações significativas no clima. Como consequência, poderão ocorrer fortes secas em algumas regiões (como o Centro-Oeste e o Nordeste) e o aumento significativo das chuvas no Sul e parte do Sudeste.
Levando-se em conta que, pelo fator clima e outros fatores de mercado, já vem se verificando problemas que tem influenciado na safra de algumas regiões, como nos EUA, e consequente reflexos mais ou menos significativos nos preços de produtos agrícolas, a incidência de um El Niño mais forte, pode representar o agravamento desse quadro de instabilidade tanto nas colheitas como na remuneração dos produtos e, até, num momento posterior, nos preços agrícolas na ponta da cadeia (no consumidor).
Expectativas
Durante três anos recentes, quem se manifestou foi o La Niña, fenômeno climático semelhante ao El Niño mas que apresenta origem e manifestações diferentes. Nessa oportunidade, ocorreu uma dura seca na região Sul do Brasil, provocando quebra na safra de grãos, por exemplo, no Rio Grande do Sul.
O Centro Americano de Previsão do Climática, divulgou recentemente um boletim confirmando o registro do fenômeno El Niño, de magnitude bem maior do que o de anos anteriores. E mostrou também que, nos próximos três anos, a partir de 2023, poderão ser grandes os efeitos para a agricultura. Com a influência do El Nino, o padrão das chuvas é alterado em todo o planeta, modulando as condições nas regiões produtoras.
O regime de chuvas no Brasil central, segundo previsões iniciais, indicam um período mais seco e quente nessa região. Essa combinação de falta de chuvas e temperaturas mais altas, é um fator limitante para o potencial produtivo das lavouras de soja e milho, principalmente em relação à restrição hídrica.Trazendo como consequência, produtividades menores, e dependendo do caso, até quebra da safras.
Um verão bem mais seco pode comprometer a safra de soja, levando a taxas de germinação mais baixas e, consequentemente, colheitas menores. Além disso, temperaturas mais elevadas podem aumentar a evapotranspiração, o que pode agravar os efeitos da falta de chuva. Este cenário é previsto no Brasil central pegando o Mato Grosso, estado responsável por 33% da produção nacional de milho primeira safra e 26% da soja.E também, Goiás e Mato Grosso do Sul. Diferentemente do Paraná e Rio Grande do Sul onde, a boa disponibilidade hídrica, pode alavancar a produção dessas cultivares.
Na cana
As principais regiões produtoras de cana de açúcar terão um clima sem grandes influências do fenômeno El-Niño. Entretanto, as projeções indicam temperaturas acima da média em todos os setores do país, isso deve acelerar a perda de umidade em função das maiores taxas evaporativas.
Eventualmente, períodos mais secos durante a fase de tolerância, podem causar redução na produtividade de colmos, mas, simultaneamente, podem aumentar a concentração de sacarose que, em alguns casos, pode até ser vantajosa sob o ponto de vista da produção.