Sistema inédito monitora remotamente a temperatura corporal de bovinos

Embrapa Gado de Corte (MS) e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) desenvolveram um sistema inovador de monitoramento de bovinos, capaz de mensurar a temperatura corporal de forma remota. A tecnologia, que se baseia em um sensor no canal auditivo, é de boa fixação e não machuca o animal, privilegiando o bem-estar e o manejo, ao mesmo tempo em que contribui para aumentar a rastreabilidade da carne, cada vez mais relevante diante de cenários de segurança alimentar e barreiras sanitárias. A patente foi depositada pelas instituições no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI), sob o número BR 10 2024 021350 5.

O sistema é fruto do trabalho de mestrado em Engenharia da Computação de Arthur Lemos, no Programa de Pós-Graduação em Computação Aplicada da Faculdade de Computação (Facom-UFMS), em parceria com a Embrapa. A temperatura do animal foi escolhida como parâmetro porque é um indicativo fisiológico de infecções e inflamações, além de períodos de cio e estresses. A invenção, que funciona com energia solar, sem necessidade de baterias e livre da influência da temperatura do ambiente, permite detectar e evitar prejuízos à saúde dos bovinos, com rapidez e sustentabilidade.

Segundo Lemos, a opção por essa fonte alternativa de alimentação se deve à durabilidade do sistema e à baixa necessidade de manutenção. Já a escolha pelo brinco na orelha garante boa fixação, com menos chances de perdas durante o manejo, além de favorecer o bem-estar animal.

Um dos pioneiros em pecuária de precisão no País, Pedro Paulo Pires, pesquisador da Embrapa, reforça o potencial de impacto dessa ferramenta de monitoramento. Segundo ele, a medição manual da temperatura corporal central (TCC) de um mamífero de casco pode apresentar uma série de problemas; entre eles, o custo elevado e o estresse animal.

Por exemplo, caso o estudo empregasse transponders de identificação por radiofrequência (RFID) dotada de sensores de temperatura, haveria a exigência de leitoras RFID espalhadas pela fazenda, o que oneraria os custos do monitoramento. Outra possibilidade, que são as câmeras termográficas, também não é eficiente pela influência do ambiente na medição. “Encontrar um instrumento ideal é um desafio, mas a inovação tem gerado resultados bastante promissores”, complementa.

 

Parceria resulta em soluções digitais em prol da pecuária brasileira

Lemos e Pires trabalham em cooperação com o professor da Facom-UFMS Fábio Iaione, orientador de Lemos, e com o analista em tecnologia da informação (TI) da Embrapa Quintino Izidio, que é coorientador do mestrando, em estudos voltados à pecuária de precisão.

A parceria Facom-UFMS e Embrapa, nessa pós-graduação, já resultou em quase 50 dissertações concluídas, ao longo de 15 anos, e prova como a comunhão de esforços em pesquisa aplicada deriva em inovações necessárias.

Os pesquisadores enfatizam que os trabalhos desenvolvidos nesse mestrado profissional em computação aplicada são todos focados em soluções tecnológicas para a pecuária brasileira.

 

Dispositivo está pronto para parcerias

O equipamento utiliza conhecimentos de zootecnia, pecuária, veterinária, engenharia e computação. Sua composição se baseia em uma unidade principal e um sensor de temperatura, além de uma base transceptora, que pode estar a até 25 km de distância dos animais monitorados. Isso evidencia que é possível cobrir toda a área por onde circulam.

O professor Iaione explica que a invenção mede periodicamente a temperatura no canal auricular, por meio de um sensor e a geolocalização do animal. “A seguir transmite,  por wireless, para um receptor localizado à distância, que está conectado à internet e reenvia os dados para um computador-servidor”, detalha.

Com as informações disponíveis, o produtor terá um sistema de alerta quando um animal apresentar febre, inflamações, estresse térmico e outras condições perigosas.

Pires, que é médico-veterinário, lembra que doenças como a febre aftosa se disseminam rapidamente entre os animais, principalmente, em regiões livres da doença, sem vacinação. Em outras situações, como o estresse térmico, ele afirma que há diminuição na produção de carne e leite, queda na qualidade dos alimentos produzidos e maior incidência de doenças nos animais.

A Embrapa procura parceiros para fabricação do dispositivo em larga escala, facilitando o acesso do produtor rural à inovação. Izidio ratifica que, assim como a pesagem dos animais sem a obrigatoriedade de ida ao mangueiro, o equipamento facilitará a rotina, tanto na saúde do animal, como na identificação de cio e parto, por meio da variação de temperatura das fêmeas.

 

Como nasce uma patente

O Manual de Patentes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OECD, sigla em inglês) define a patente como uma forma de proteger as invenções desenvolvidas pelas empresas e pessoas que podem ser interpretadas como indicadoras de invenções. O caminho para registro de uma patente pode parecer burocrático, custoso e dispendioso, mas é vantajoso quando se considera que ele é o reconhecimento não somente da autoria, como também do direito de exclusividade.

Na Embrapa, há instâncias responsáveis por acompanhar esse processo inventivo. A analista Dayanna Schiavi relata que uma invenção é patenteável desde que atenda aos requisitos de novidade, atividade inventiva e aplicação industrial, seguindo critérios legais. Ela e sua equipe, com profissionais da Agência de Internacionalização e de Inovação (Aginova), da UFMS, auxiliaram os cientistas da estatal e da universidade no registro da ferramenta de monitoramento, que se enquadra nos quesitos exigidos.

A complexidade do processo, que pode requerer uma consultoria especializada, começa com uma pesquisa para verificar se a tecnologia já existe. Em caso negativo, é cadastrada no INPI, a partir de um formulário de pedido de registro; e conta com acompanhamento posterior. “A patente agrega valor ao ativo, especialmente na fase de negociação junto ao mercado”, salienta Schiavi.

 

Dalízia Aguiar
Embrapa Gado de Corte

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