A broca da cana-de-açúcar ( Diatraea saccharalis ) pode ser considerada uma das principais pragas do sorgo, dependendo da densidade populacional do inseto no campo. Essa é a conclusão do primeiro estudo para determinar seu nível de dano econômico em sorgo granífero e mostrar efetivamente a quantidade de produtividade que pode ser comprometida devido à infestação da broca.
De forma geral, os resultados deste estudo, que utilizou híbridos comerciais comumente semeados no Brasil, mostraram a suscetibilidade do sorgo granífero à broca da cana-de-açúcar (também conhecida como broca do colmo) sob altos níveis de infestação, causando perdas substanciais de produtividade quando não tratado com inseticida.
O artigo intitulado ” Qual o potencial da broca da cana-de-açúcar na redução da aptidão do sorgo e da produção de grãos? ” e publicado no Journal of Applied Entomology registra os resultados de um estudo realizado em três safras entre 2021 e 2023 na Embrapa Milho e Sorgo , em Sete Lagoas, Minas Gerais, Brasil. O estudo faz parte da tese de doutorado de Camila da Silva Fernandes Souza, pela Universidade Federal de Lavras ( Ufla ), sob orientação do professor Bruno Henrique Sardinha de Souza, e Simone Martins Mendes , pesquisadora da Embrapa.
“Ultimamente temos falado muito sobre o pulgão do sorgo ( Melanaphis sorghi ), obviamente, porque ele tem causado grandes danos às plantações desse cereal por ser de difícil controle. No entanto, este estudo mostra os danos causados pela broca do colmo no cultivo do sorgo, para efeito de comparação”, relata o cientista da Embrapa.
Ela diz que a broca muitas vezes passa despercebida devido ao seu hábito de crescimento. Ela cresce escondida dentro do caule das plantas de sorgo. Essas perdas de colheita foram medidas pela primeira vez neste estudo e, dependendo do híbrido de sorgo, podem chegar a cerca de 50% da produção.
Praga em fase de lagarta, dentro do colmo da planta. Foto: Simone Mendes e Otávio Araújo
Muitas dessas perdas econômicas têm sido controladas por meio do uso de inseticidas, tanto contra a lagarta-do-cartucho ( Spodoptera frugiperda ) quanto contra o pulgão-do-sorgo. “No entanto, é fundamental ter cautela com a broca nas lavouras de sorgo, pois os danos muitas vezes passam despercebidos pelos agricultores”, revela Mendes.
A broca da cana-de-açúcar foi capaz de causar perdas de produtividade de até 100% em casos mais severos, quando as plantas não foram tratadas com inseticida em um híbrido menos tolerante. O híbrido mais produtivo e tolerante registrou uma perda de 50%. Isso mostra como os híbridos de sorgo podem se comportar de forma diferente no campo sob a mesma infestação de pragas. Portanto, também é importante que os agricultores estejam atentos se a praga está infestando seus campos, pois o uso de um híbrido suscetível combinado com o não uso de inseticidas pode levar a perdas severas.
Segundo Camila Souza, apesar da importância dessa espécie de inseto praga, pouco se sabia sobre a relação entre infestação de broca e redução da produtividade do sorgo granífero. Outra questão de pesquisa era aprender o limiar econômico e o nível de dano econômico para a tomada de decisão de controle de pragas.
“De acordo com o estudo, medimos cuidadosamente tanto a infestação de pragas quanto os parâmetros de rendimento da cultura. Avaliamos o comprimento das galerias causadas pela alimentação da broca, altura da planta, comprimento e peso da panícula, bem como danos causados pela broca do colmo e rendimento de grãos comprometido. A infestação da broca da cana-de-açúcar foi maior quando as plantas de sorgo não foram tratadas com inseticida, resultando em menor rendimento”, explica Souza.
Com o uso de inseticida para controle da praga, os pesquisadores observaram um aumento na altura das plantas, principalmente devido à diminuição das galerias (furos) causadas pela broca nos colmos da planta, o que impede a translocação de fotoassimilados (compostos resultantes da fotossíntese) através da planta e, consequentemente, aumenta o comprimento e o peso da panícula.
Híbrido mais resistente
Dois híbridos comerciais apresentaram redução na produção de grãos com o aumento do comprimento da galeria, enquanto o sorgo BRS 373 não apresentou brilho significativo, o que pode sugerir certo nível de tolerância ao ataque da broca-da-cana-de-açúcar.
O estudo foi pioneiro ao determinar os limites de ganho e o nível de dano econômico causado pelo ataque dessa lagarta em híbridos de sorgo granífero. Essa informação é fundamental para os agricultores porque permite planejar melhor o cultivo, sabendo que é necessário tomar medidas de controle se a infestação da praga atingir 3% de intensidade”, pontua Camila Souza.
Gráfico: Produtividade média (kg/ha) de híbridos de sorgo granífero, em três safras consecutivas de 2021 a 2022 sob infestação de broca-da-cana (Diatraea saccharalis) e sem infestação dessa praga. Autores: Camila Souza e Simone Mendes
Análise econômicaO nível de dano econômico é menor densidade de insetos, ou de seus danos, que causam prejuízos econômicos. “Quando o custo do controle da praga é igual à perda de produtividade causada pela densidade populacional do broca-da-cana-de-açúcar. Os valores de mercado podem mudar ao longo do tempo de acordo com as condições econômicas atuais”, relata Souza. Os cálculos foram baseados em dados médios dos últimos cinco anos. Para o valor de uma saca de 60 kg de grãos de sorgo, em dólares, o valor considerado foi US$ 8,62. E o custo médio de aplicação via solo por hectare, para controle da broca-da-cana-de-açúcar, US$ 25,90, levando-se em consideração o preço do inseticida comercial por hectare aplicado. Foram realizadas cotações nos principais vendedores para uma aplicação, conforme o Mercado Físico – Sorgo, em 2022. |