Novos produtos alimentares sem glúten combinam nutrientes de cereais e leguminosas

A Embrapa Tecnologia de Alimentos  está em busca de parceiros para colocar no mercado novas opções de alimentos isentos de glúten, que combinam cereais integrais – arroz e milheto – e leguminosas – grão-de-bico e feijão. Os produtos incluem um biscoito – tipo lanche – integral aerado e crocante; farinhas integrais pré-cozidas para uso doméstico ou industrial, massa alimentícia integral e preparação de pão pita (árabe ou sírio). Esses ativos tecnológicos estão disponíveis para desenvolvimento de código, validação, escalonamento industrial e licenciamento ( veja mais detalhes no quadro ao final desta matéria ).

Os resultados foram alcançados a partir do uso da extrusão termoplástica, processo que permite cozimento rápido e versátil, formando diferentes formatos e texturas. Segundo o pesquisador da Embrapa  Carlos Piler , a extrusão termoplástica também possibilita processar o grão inteiro sem a necessidade de separação da casca, como ocorre com as farinhas refinadas. Com isso, as enzimas que provocam rancificação são inativadas, prolongando a vida útil do produto. “A escolha desse processo é estratégica no processamento de alimentos integrais, pois o grão, seja de cereal ou de leguminosa, é integralmente utilizado. Soma-se a isso a experiência de anos que temos na Embrapa com o uso dessa tecnologia no desenvolvimento de alimentos utilizando diversos materiais-primas vegetais”, informa.

O pesquisador explica, ainda, que tanto para os lanches quanto para o pão pita, foram usadas farinhas de grãos inteiros de dois cereais – o arroz e o milheto pérolas ( Pennisetum glaucum (L.) R. Br. ) – e de leguminosas – grão -de-bico e feijão-carioca. Conforme o produto, o teor do feijão-carioca foi alterado.

No caso dos salgadinhos, o teor do feijão-carioca foi mantido em 10%, enquanto para o pão árabe foi de 5%. Já a quantidade de arroz, milho pérola e grão-de-bico foi de igual proporção, o que levou a um produto com teor de proteína de 12,8%, para o lanche, e de 10,5% para o pão árabe.

Em ambos os casos, os produtos finais alcançaram índices de sensorial acessíveis de 70%. “Isso demonstra uma boa acessibilidade, inferindo-se aos produtos específicos de interesse de compra, se lançados comercialmente. Além do teor de proteínas, destaca-se a quantidade de fibras alimentares que, no caso do lanche, alcançou 9%, e do pão pita, 10%”, acrescenta Piler.

 

Matérias-primas têm disponibilidade no mercado

A escolha das matérias-primas foi baseada no aspecto de disponibilidade no mercado, no caso do arroz e do feijão-carioca, que são dois grãos de produção substancial no Brasil. Quanto ao grão-de-bico, foram levadas em conta qualidades interessantes como a cor clara e o sabor reduzido de feijão, que costuma provocar alguma contaminação junto aos consumidores. 

Piler explica que, no caso do milho pérola, a escolha levou em consideração o fato de ser um cereal com características nutricionais de destaque pelos bioativos que contém como, por exemplo, os compostos fenólicos. “No Brasil, a cultura do milho pérola ocupa uma área cultivada superior a 4 milhões de hectares, destinada, principalmente, ao plantio direto na orientação de culturas de soja e milho. Por esses dois aspectos nutricionais e área plantada, seu uso significa garantir a segurança alimentar por disponibilidade de alimentos saudáveis ​​quando destinados à alimentação humana”, destaca.

A extrusão termoplástica

A tecnologia de extrusão termoplástica é conhecida dos médios e grandes empreendedores do setor industrial de alimentos. De acordo com o pesquisador da Embrapa  José Ascheri , trata-se de uma rota tecnológica menos acessível a pequenos produtores, pois requer investimento específico, o que depende da escala de produção. “Porém, os produtos podem ser obtidos em linhas de produção pré-instaladas de indústrias grandes que processam outros cereais convencionais como o milho, permitindo a diversificação de produtos alternativos, uma vez que o milho, o grão-de-bico e o feijão-carioca são grãos isentos de transgenia e das proteínas do glúten, atendendo assim ao nicho de saudabilidade em produtos de conveniência”, observa.

Massa em formato parafuso com altos teores de proteínas e fibras 

A massa alimentar isenta de glúten é um produto desenvolvido a partir de grãos de milho pérola e de grão de bico, ambos integrais, o que resulta em um produto com maior teor de proteínas – 13% – e de fibras alimentares – 11% – em comparação com grande parte dos produtos disponíveis comercialmente. A pesquisadora da Embrapa  Melicia Galdeano  detalhou que, para o desenvolvimento, foi utilizado o processo de extrusão termoplástica, de forma a obter a farinha mista pré-cozida de grão-de-bico e de pérolas de milheto, e de extrusão a frio para a moldagem (trefilação) do produto final. 

“No caso, foi obtido o formato fusilli, ou parafuso. A combinação das tecnologias teve como objetivo melhorar as propriedades tecnológicas do produto. Isso porque a farinha pré-cozida hidratada forma uma rede que mimetiza a rede de glúten e melhora a textura do produto. Esse ativo contribui para oferecer mais uma alternativa alimentar para os portadores das intolerâncias relacionadas ao glúten e ao trigo, sendo um alimento com alto teor de fibras e com maior teor de proteínas que os alimentos da mesma categoria disponíveis comercialmente”, acrescenta.

 

Parcerias

Os ativos tecnológicos desenvolvidos pela Embrapa Agroindústria de Alimentos estão disponíveis para parceria de desenvolvimento de código, validação, escalonamento industrial e licenciamento. A partir de cooperação com a indústria alimentícia, o objetivo é testar ajustes finos na realização e no desenvolvimento de produtos comerciais, assim como o licenciamento e a exploração comercial do código do produto envolvido

Embrapa Tecnologia de Alimentos

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